I Concurso de Minicontos Autores S/A

O objetivo desse certame é estimular a criação de minicontos na língua portuguesa, reforçando ainda mais esse momento literário dos dias atuais, descobrir e publicar novos talentos da área.

Antologia Poesia.com

A antologia poética “Poesia.com” reúne os melhores poemas do Iº Concurso de Poesia Autores S/A. Destacando-se poesias sobre o sertão, o amor e o sexo, e haicais de muita qualidade.

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I Concurso de Minicontos Autores S/A

O objetivo desse certame é estimular a criação de minicontos na língua portuguesa, reforçando ainda mais esse momento literário dos dias atuais, descobrir e publicar novos talentos da área.

Bolão Autores S/A: Oscar 2013 !

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domingo, 2 de dezembro de 2012

Entrevistados do II Concurso de Poesia Autores S/A (2012)

Caros, leitores: todas as entrevistas abaixo foram realizadas no ano de 2012, pelo autor Lohan Lage, durante o período do II Concurso de Poesia Autores S/A. Os entrevistados contribuíram gentilmente com seus pareceres neste certame poético.




Entrevista com: Francis Ivanovich


Francis Ivanovich, 49 anos, é ator, escritor, jornalista, dramaturgo, roteirista e diretor de teatro e cinema. Autor entre outros do romance “O Contador de Mentiras, 2010 - Editora Multifoco – Selo Desfecho - RJ”, e de mais de 30 peças teatrais para adultos, jovens e crianças, entre elas: “A História do Homem que Ouve Mozart e da Moça do Lado que Escuta o Homem” selecionada pelas mostras oficiais 2011 dos Festivais de Curitiba e Porto Alegre”; “Andersen Lobato” peça infantil premiada em festivais de teatro em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro; Fundou e dirige a Cia Teatral Ensinoemcena, uma das mais atuantes junto aos jovens com espetáculos educativos como “Mãe, eu vou ser Mãe” premiado pelo SESC Rio de Janeiro; “Profissão Poesia”, peça assistida por mais de 400 mil adolescentes nas escolas do Rio de Janeiro; “Bullying, Tô fora”, peça teatral adotada pelas principais escolas privadas do Rio e São Paulo em 2011, e “Viva!”, prevenção do uso de drogas. O autor prepara novas publicações e é um dos idealizadores do primeiro encontro de Autores teatrais latino-americanos: LATA. Estudou cinema na Escola de Cinema Darcy Ribeiro; realizou os filmes curtas “A Deus Paissandu”; “O Morcego”, “Café a Dois?”, entre outros; roterizou série sobre educação para a TV escola MEC.


Lohan: Olá, Francis! É um prazer tê-lo como jurado neste concurso. Você é escritor e roteirista. Quais as maiores diferenças que existem na elaboração de um livro e de um roteiro? Quando você escreve um livro, ou um conto, você o imagina se tornando um roteiro no futuro?


Francis: Profundas. No livro você escreve só, inteiramente só; no roteiro você conta com uma equipe de colaboradores, além do que, nos processos de filmagem e montagem o roteiro original pode sofrer mudanças; no livro original, é praticamente intocável, além de serem técnicas completamente opostas, no romance, há de se valorizar o estilo da narrativa, no roteiro, a força da imagem. Nunca imagino o que vai acontecer com texto depois de pronto.


Lohan: Francis, o que um poema deve ter, na sua concepção, para receber a sua nota 10?

Francis: Surpresa, imagem inusitada, algo revelado, a poesia em si.


Lohan: Se um dia você tiver a oportunidade de adaptar um roteiro para um longa-metragem, de um poema, qual poema você escolheria e por quê?


Francis: “Tabacaria”, de Fernando Pessoa; simplesmente é a história de um gênio.


Entrevista com: Thelma Guedes


Thelma Guedes é mestre em Literatura pela Universidade de São Paulo. Autora dos livros “Cidadela Ardente” (contos, Ateliê, 1997); “Pagu: Literatura e Revolução” (ensaio, Ateliê/Nankin, 2003); “Atrás do Osso” (poemas, ProAC/Nankin, 2007); “O Outro Escritor” (contos, ProAC/Nankin, 2009). Autora da Rede Globo, desde 1997, trabalhou nos programas “Turma do Didi”, “Sítio do Picapau Amarelo”; e colaborou nas novelas “Vila Madalena” (1999/2000, de Walter Negrão); “Esperança” (2002/2003, de Benedito Ruy Barbosa, na fase escrita por Walcyr Carrasco); “Chocolate com Pimenta” (2003/2004) e “Alma Gêmea”(2005/2006), as duas últimas de Walcyr Carrasco. Ao lado de Duca Rachid, é autora das novelas “O Profeta” (2006/2007), “Cama de Gato” (2009/2010), e “Cordel Encantado” (2011).


Lohan: Olá, Thelma! É um prazer imenso recebê-la no Autores S/A. Você que, ao lado de sua fiel parceira Duca Rachid, tem despontado como uma das maiores promessas da teledramaturgia brasileira. Sua ingressão neste mundo se deu por acaso, segundo você relatou na recente entrevista à SuperCult. Você se inscreveu com um único roteiro numa Oficina de Roteiros da TV Globo e foi aprovada. Conte para nós qual era a história desse roteiro que te abriu as portas para esta carreira.


Thelma: Para se inscrever na oficina da Globo que eu fiz, cada candidato deveria mandar um roteiro de quinze páginas, inspirado na parábola bíblica do filho pródigo. Escrevi um roteiro clássico, de folhetim, em que um fazendeiro tinha dois filhos. O mais jovem ia embora da fazenda, para conquistar novos horizontes na cidade grande. Além do pai, do irmão, ele deixava um grande amor. Quando voltava, ele estava doente, sem dinheiro. E encontrava a mulher que amava casada com o irmão mais velho que tinha ficado cuidando dos negócios do pai. Sinceramente, nem me lembro como terminava, mas tinha cara de novelão. Enquanto escrevia só pensava em Janete Clair. Mas este roteiro só foi mesmo para me inscrever. Fui chamada para testes, entrevista. Depois tive que passar por uma oficina de três meses. Dos setecentos inscritos, 12 foram selecionados para passar pela oficina. Depois do primeiro mês, eles deixaram apenas seis cursando a nova etapa de dois meses. Durante este tempo escrevi um roteiro adaptado de um conto de uma escritora portuguesa. Foi um super aprendizado estudar minuciosamente o conto, desconstruí-lo para escrever um roteiro de um especial. No final da oficina eles escolheram três roteiristas para contratar. Eu nem acreditei quando soube quer era um desses escolhidos!


Lohan: Thelma, você também tem 4 livros publicados e, entre eles, um livro de poemas (“Atrás do Osso”, 2007). Ainda hoje, apesar do intenso trabalho com os roteiros televisivos, você produz e/ou lê poesia nos tempos vagos? Em tempo: qual o seu livro de cabeceira?


Thelma: Claro que sim. Adoro literatura. Adoro poesia. Sempre leio e escrevo contos e poemas! Minha cabeceira está sempre cheia de livros. Por muito tempo, meu livro de cabeceira foi “Laços de Família” ou algum outro livro da Clarice Lispector. Ultimamente, tenho lido autores contemporâneos. Acabei de ler um livro do Philip Roth e neste momento estou terminando o livro maravilhoso do Georges Bourdoukan: “Capitão Mouro”. Mas tem muitos na fila, no meu criado-mudo. Para o nosso próximo trabalho na TV, tenho lido livros de História, focando o período das décadas de 30 e 40. E também sobre o Budismo. A leitura de poesia eu uso como uma espécie de colírio, para limpar a vista, alma. A poesia limpa, abre a cabeça e o coração para novos pontos de vista do mundo. Adoro voltar à poesia de Orides Fontela, por exemplo. Manoel de Barros também é um dos meus preferidos. Fernando Pessoa também reserva grandes surpresas nas releituras que faço de seus poemas.


Lohan: Hoje em dia, segundo estatísticas, se vende muito livro e, paradoxalmente, ainda se lê pouco. Como você enxerga o cenário atual do leitor no Brasil? Você acredita que a inserção da literariedade na teledramaturgia brasileira (vide “Cordel Encantado”) seja uma isca eficaz para “pescar” o telespectador e conduzi-lo para o mundo da leitura? Ao formular histórias como ''Cordel Encantado'', há essa intencionalidade para com o público?


Thelma: Parece que as pessoas estão lendo menos mesmo. É uma pena, não é? O hábito da leitura é algo que tem que ser cultivado cedo. Acho que faltam campanhas fortes incentivando este hábito no Brasil. A leitura é tão importante, mas parece que a questão do livro é vista apenas no âmbito comercial, de mercado... Acho que as obras audiovisuais com grande alcance, como a telenovela, que atinge o grande público podem e devem sim colaborar neste sentido, de divulgar a literatura e incentivar a leitura. A TV pode fazer parte disso, mesmo sendo fundamental, não acho que seu papel seja determinante. O leitor não se forma por meio da televisão. Este trabalho tem que ser feito na base, sobretudo por meio de uma educação consistente, na escola, e por meio de grandes campanhas. A leitura tem que fazer parte da vida, do dia-a-dia desde a infância. Acho muito bom que muitos jovens adoraram as referências literárias de “Cordel Encantado”. Mas elas não foram usadas com este intuito específico. Duca e eu quisemos escrever um trabalho de qualidade. E fizemos uso das nossas referências.


Lohan: Nesta etapa do concurso estamos falando de cinema, essa arte tão magnífica. Qual é o filme mais marcante da sua vida, Thelma? E por quê?


Thelma: São tantos os filmes da minha vida, que é difícil escolher só um. “Hiroshima, mon amour” é um dos filmes que mais me marcou. Adoro todos os filmes do Kieslovsky. Sobretudo o filme “Não Amarás”. Amo “Blade Runner”. O último filme que me impactou foi “Melancolia”. São todos filmes que tratam de amor, da fragilidade e do desamparo humano.


Lohan: Se um dia surgisse para você a proposta de adaptar uma única obra literária para a televisão, qual obra você escolheria e por quê? Essa vontade já existe, ou já foi discutida, por parte de vocês (você e a Duca)?


Thelma: Esta pergunta eu preferia não responder. Se eu falar, de repente, alguém tem a ideia e adapta antes que eu tenha a oportunidade de fazê-lo!



Entrevista coletiva com: André de Leones, Ana Elisa Ribeiro, Julián Fuks, Luísa Geisler e Victor Paes.


Lohan: Olá, caros escritores. É um prazer imenso recebê-los no Autores S/A. Digam: qual é a sensação por estarem solidificando a carreira literária de vocês? O que foi fundamental para vocês em vossos primeiros passos como escritores perante a crítica e os leitores, em geral, e que vocês podem deixar como conselho aos poetas dessa competição?


André de Leones: O mais importante é ler, estudar muito. Sugiro, também, que fiquem atentos a prêmios e concursos. Com meu primeiro romance, 'Hoje está um dia morto', venci o Prêmio Sesc de Literatura 2005. Com isso, tive o livro publicado por uma grande editora (Record) e dei meus primeiros passos no meio literário.


Ana Elisa Ribeiro: A sensação é a de trabalhar muito. Nunca deixar de escrever e publicar. É isso o que solidifica uma carreira (qualquer, acho, aliás), embora muitos fatores externos possam contribuir para o sucesso (ou o insucesso). Acho que é preciso se levar um pouco a sério, mas só um pouco, pra não ficar pretensioso e até pedante. Escrever muito e se reler (e ser lido e relido pelos pares) é, penso, o jeito de melhorar e merecer.


Victor Paes: É um prazer participar. Bem, solidificar uma carreira literária hoje é uma ideia tão cômica quanto assustadora para alguém que esteja se propondo a isso. E pelo mesmo motivo: por estar acreditando que esteja acontecendo. Brincadeiras à parte, acho que tudo é resultado, como em qualquer profissão, de duas coisas: trabalho e sorte. Trabalho em primeiro lugar, claro, pois é só com ele que a sorte se torna digna. A sorte sozinha só gera fugacidade. Mas, claro, é fundamental. E trabalho, em literatura, não me canso de dizer isso, é basicamente leitura. E escrever muito. Mais até reescrever que escrever.


Luisa Geisler: A sensação é muito gratificante, pode ter certeza. Mas ao mesmo tempo, é cada vez mais a certeza de que há muito trabalho a ser feito. Publicar um ou dois livros, ser elogiado na crítica só significa uma coisa: ter que manter o nível. Ser escritor, iniciante ou ganhador do Nobel, nunca vai ser fácil. Em relação ao que foi fundamental: para mim, foi uma Oficina de criação literária, que fiz com Luiz Antonio de Assis Brasil. Mudou muito a minha escrita ver o texto como algo a ser trabalhado, revisado, objetivado etc. A escrita é, como a dança, teatro, música, uma arte que se melhora através do conhecimento da técnica e da prática. Claro que isso não quer dizer que todos somos obrigados a fazer oficinas, mas acredito que muita leitura e muita escrita são essenciais. Cada um tem seu método, no fim das contas, mas essas duas são bem universais.


Julián Fuks: Difícil, ao menos no Brasil, sentir de fato que se está consolidando uma carreira literária. Quando se trata de literatura, o reconhecimento é sempre incerto, a crítica é rarefeita, os leitores, quase inexistentes. Se cabe algum conselho, talvez seja para nunca perder de vista a razão primeira por que se escreve, para além de qualquer vaidade ou qualquer batalha pela apreciação alheia. Prosa ou poesia nada têm a ver com isso, com essa disputa acirrada por prestígio: a literatura acontece apenas entre o escritor e suas palavras, seus livros, suas ideias.


Lohan: O que um poema, na concepção de vocês, deve ter/ser para receber a nota 10? Qual é o tipo de poesia que mais te cativa?


André de Leones: Rigor formal, isto é, o autor deve ter plena consciência do que quer dizer e de como dizê-lo. A ideia de que o poeta é um ser "iluminado" e que escreve num momento de "inspiração" é uma grande besteira. Os melhores poetas são aqueles que trabalham seus textos à exaustão, lapidando cada verso, escolhendo cada palavra com todo o cuidado. Creio que João Cabral de Melo Neto e Orides Fontela são ótimos exemplos. Considero ambos geniais.


Ana Elisa Ribeiro: Isso é mesmo muito pessoal. Poesia, pra mim, tem de ter "pega", "fecho", zíper de aço, com encaixe perfeito, como eu disse certa vez. Não curto muito poesia só imagem, só gastação de palavras bonitas (ou feias), só esmeril, como não gosto de guitarrista que só esmerilha e não mostra composição. Curto bem um humor, sabe, mas é algo pra se ter cuidado na poesia. Poesia curta me cativa, mas uma boa poesia longa também. Nas duas, é preciso ter inteligência lexical, vamos dizer assim.


Victor Paes: Parece fácil dar notas a poemas, mas é difícil. Antes de tudo, não há tipo melhor de poesia. Sempre penso nisso quando leio um poema: não há ideia ruim por excelência. Torna-se ruim quando é mal realizada. Isso acontece quando o poeta não tem muita experiência com a poesia, não definindo um estilo próprio, ou quando, dentro de seu próprio estilo, sente-se confortável e não batalha. Claro que sempre há exceções, mas em geral é por aí. E um poema bem realizado, em qualquer estilo, é o que cativa e que vai cativar sempre.


Luisa Geisler: Sou um pouco ligada à forma e sou bastante fã de poesia concreta. Apesar disso, adoro Schiller também. Para mim, o essencial é criatividade, pensar fora de padrões impostos, anda mais na poesia.

Julián Fuks: Como responder a uma pergunta dessas sem apelar a uma platitude qualquer? O poema tem que conciliar a razão precisa de sua exis
tência, aquele algo que o poeta tem a dizer, com uma execução perfeita, minuciosa, eloquente. Tem que ter a medida exata que a matéria merecer, sem sobra ou escassez. Não que essa perfeição exista a priori, anterior aos versos; o poema que me cativa é o que me faz acreditar nessa falsa perfeição externa, na absoluta necessidade de sua existência.


Entrevista com: Henry Alfred Bugalho


Henry Alfred Bugalho é curitibano, formado em Filosofia pela UFPR, com ênfase em Estética. Especialista em Literatura e História. Autor dos romances “O Canto do Peregrino” (Editora Com-Arte/USP), "O Covil dos Inocentes", "O Rei dos Judeus", da novela "O Homem Pós-Histórico", e de duas coletâneas de contos. Editor da Revista SAMIZDATe fundador da Oficina Editora. Autor do livro best-selling “Guia Nova York para Mãos-de-Vaca”,cidade na qual morou por 4 anos, e do "Curso de Introdução à Fotografia do Cala a Boca e Clica!". Após uma temporada de um ano e meio em Buenos Aires, está baseado, atualmente, na Itália, com sua esposa Denise e Bia, sua cachorrinha. Site: http://www.henrybugalho.com/


Lohan: Olá, Henry. É um prazer recebê-lo no Autores S/A! Você é editor de uma famosa revista virtual, a Samizdat, que preza pelas artes, em geral, sobretudo pela literatura. A Revista, inclusive, premiará os 4 primeiros colocados com a publicação de um poema de cada um deles na edição de setembro. Como nasceu esta iniciativa da Samizdat, caro Henry? E o que você acha sobre a realização de concursos literários, como este? Você crê que as competições são válidas para o reconhecimento e para a divulgação dos poetas?


Henry: A Revista SAMIZDAT foi a terceira etapa de um processo de aperfeiçoamento literário que se iniciou em 2005, na comunidade virtual "Escritores - Teoria Literária" e, posteriormente, na oficina literária virtual "Oficina da E-TL". O grupo inicial de autores da Revista SAMIZDAT era composto por membros desta oficina literária, mas, com o transcorrer dos meses, passamos a receber contribuições espontâneas de outros autores que, aos poucos, também foram incorporados à equipe fixa da revista. Hoje, somos 26 autores fixos, inúmeros colaboradores externos, quase mil textos publicados no blog e 34 edições da revista digital, tendo recebido centenas de milhares de leitores nestes anos de publicação. E estamos sempre abertos para novos talentos que desejem participar das nossas edições digitais. Eu possuo uma relação bastante conflituosa com concursos literários. Por um lado, acredito que seja uma maneira para um autor em ascensão adquirir visibilidade, conquistar credibilidade e leitores. Por outro lado, a maioria dos concursos não possui transparência, com resultados escusos, com visível apadrinhamento. No final das contas, cabe ao autor pesquisar a idoneidade dos concursos do qual participa, para não acabar com a sensação de ter sido passado para trás. Todavia, também reconheço que todos nós já nos sentimos injustiçados um dia por causa de um resultado desfavorável num concurso...


Lohan: Caro Henry, diga-nos: o que, na sua concepção, um poema deve ter/ser para receber a sua nota 10? O que deve prevalecer em um poema e qual o conselho que você deixa a todos os 12 poetas dessa competição?


Henry: A poesia, assim como qualquer outro gênero literário, precisa tocar fundo, abalar e comover o leitor. E por mais que existam teorias e teorias, e toda sorte de conjeturas estéticas, a recepção de uma obra de Arte é muito subjetiva, e também determinada por fatores históricos, sociais, geográficos e, às vezes, até políticos. O que apraz um chinês pode não ser o que agrade um brasileiro, e o que era belo na Era Vitoriana talvez não seja tão interessante hoje. Assim, um poema nota dez para mim, que reverbere em minha mente, talvez não tenha o mesmo efeito em outra pessoa. E penso que isto é o mais deslumbrante sobre a Arte e a Literatura, esta capacidade de causar diferentes sensações, de criar polêmica, de escandalizar, de instaurar estranhamento e de afetar a cada um de nós de maneiras particulares. Por isto, não acho que um aspecto deva ter a primazia num poema, excetuando obviamente uma utilização excepcional e criativa da palavra. Um poema pode ser épico, trágico, lírico, de vanguarda, mas o que diferenciará um bom poema de um medíocre será, acima de tudo, a capacidade do poeta de traduzir em palavras preocupações e anseios íntimos de todos nós seres humanos. Se eu pudesse dar um conselho aos poetas - ah, quisera eu estar em condições de dar conselhos! -, acredito que qualquer escritor deveria ser sempre fiel ao que acredita, escrevendo sobre temas o agradem, num estilo que lhe diga respeito. A meta de qualquer escritor deveria ser a de escrever livros que ele gostaria de ter lido e que ninguém jamais ousou escrever até aquele momento. Escrever poesia em nossos tempos é - nesta época de faroeste digital, quando tudo é permitido e tudo é possível - para os audaciosos ou para os ingênuos, e a diferenciação ocorrerá justamente ao se pesar a convicção e o comprometimento, entre aqueles que extraem os versos de seu sangue, sofrimento e angústias e aqueles que foram tomados pela ilusão da facilidade do fazer poético. Hoje, qualquer um pode se proclamar escritor, mas, como desde sempre, são poucos os que podem bater no peito e afirmar, sem hesitação, que vivem a escrita. Não há evidentemente espaço suficiente nas galerias da História da Literatura para recordar todos os poetas talentosos e comprometidos, mas não é só de louros vindouros que nos alimentamos, mas principalmente da certeza íntima que fizemos o melhor de nossas forças, com a maior honestidade do nosso labor criativo, num diálogo silencioso e terno com os nossos leitores invisíveis.


Entrevista coletiva com: Claudio Willer e Silas Correia Leite


Silas Correia Leite é educador, jornalista comunitário e conselheiro em Direitos Humanos. Começou a escrever aos 16 anos no jornal “O Guarani” de Itararé-SP. Fez Direito e Geografia, é Especialista em Educação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA). Autor entre outros de “Porta-Lapsos”, Poemas, Editora All-Print (SP) e “Campo de Trigo Com Corvos”, Contos, Editora Design (SC), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal 2007, e “O Homem Que Virou Cerveja”, Crônicas Hilárias de um Poeta Boêmio, livro ganhador do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador Bahia, 2009, Giz Editorial, SP. Seu e-book de sucesso “O Rinoceronte de Clarice”, onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, por ser pioneiro, foi destaque na mídia como O Estadão, Jornal da Tarde, Folha de SP, Diário Popular, Revista Época, Revista Ao Mestre Com Carinho, Revista Kalunga, Revista da Web, Minha Revista (RJ). e também na rede televisiva, Programa “Metrópolis”/TV Cultura; Rede Band/Programa“Momento Cultural”; Rede 21-Programa “Na Berlinda”, Programa “Provocações”, TV Cultura/Antonio Abujamra. Por ser única no gênero e o primeiro livro interativo da Rede Mundial de Computadores, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria “Linguagem Virtual” no Mestrado de “Ciência da Linguagem” da Universidade do Sul de SC. Foi tese de Doutorado na Universidade Federal de Alagoas (“Hipertextualidade, O Livro Depois do Livro”). Texto acadêmico no link: http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=197


Claudio Willer (São Paulo, 1940) é poeta, ensaísta e tradutor. Seus vínculos são com a criação literária mais rebelde e transgressiva, como aquela representada pelo surrealismo e geração beat. Publicou Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e poesia, ensaio (Civilização Brasileira, 2010); Geração Beat (L&PM Pocket, coleção Encyclopaedia, 2009); Estranhas Experiências, poesia (Lamparina, 2004); Volta, narrativa (terceira edição em 2004); Lautréamont- Os Cantos de Maldoror, Poesias e Cartas (Iluminuras, nova edição em 2008) e Uivo e outros poemas de Allen Ginsberg (L&PM Pocket, nova edição em 2010). Teve publicados, também, Poemas para leer en voz alta (Andrómeda, Costa Rica, 2007) e ensaios na coletânea Surrealismo (Perspectiva, 2008). É autor de outros livros de poesia –Anotações para um Apocalipse, Dias Circulares e Jardins da Provocação – e da coletânea Escritos de Antonin Artaud, esgotados. Aguarda publicação de A verdadeira história do século XX, poesia, ed. Demônio Negro. Poemas publicados em antologias e periódicos literários, no Brasil e outros países. Presidiu por vários mandatos a UBE, União Brasileira de Escritores. Trabalhou em administração cultural, inclusive como Coordenador da Formação Cultural na Secretaria Municipal de Cultura (1993-2001) Doutor em Letras na USP com Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e a poesia moderna (2008), cursou pós-doutorado sobre Religiões Estranhas, Hermetismo e Poesia na mesma universidade, onde ministrou, como professor convidado, um curso de pós-graduação sobre surrealismo e outro de extensão cultural sobre a geração beat. Coordena oficinas literárias; ministra cursos e palestras sobre poesia e criação literária. Prepara um livro sobre surrealismo e uma coletânea de ensaios sobre misticismo e poesia.


Lohan: Na concepção de vocês, o que um poema tem que ter/ser para receber uma nota 10? Qual aparato técnico seria o mais indicado? Ou seria a subjetividade o fator essencial para um poema bem sucedido?


Claudio Willer: Valor: originalidade (não preciso ler o que já sei), ritmo, condensação / síntese. Não sei o que é ‘aparato técnico’. Poema é tentativa de síntese de subjetividade e objetividade.


Silas Correia: Poesia é tudo e nada ao mesmo tempo, paradoxalmente isso mesmo: criar Poesia propriamente dita. Ou, talvez, Poesia é... varreção de fragmentos e chorumes de subterrâneos mal resolvidos para debaixo do tapete dos palavrórios... O aparato técnico para mim, perdão, é não ter aparato técnico nenhum, as vias acadêmicas às vezes tripudiam sobre o inominável e matam a arte-criação. A subjetividade é, aqui e ali, um lampejo, ou ainda faz desandar a polenta da arte com lume neutro. Todas as alternativas são apenas alter-nativas... E existem as ostras. A vida é uma poesia esperando tradução/ (Silas e suas siladas). A Poesia tem que ser levada até o mais extremo, ou não seria poesia, seria rima, ritmo, metáfora, e eu gosto da santa loucura-lucidez da poesia, que revisita os bulbos inomináveis das entranhas da angustia, da solidão, da tristeza e do terrível e indizível medo de sobreviver; como um dezelo íntimo, um ranço tácito, uma cruz que se extravasa na arte como cicatriz, na poesia como fermento, na criação como um tabule de mixórdia, feito então - como sequela - uma assustadora levitação lustral. A Poesia é a casca de banana-caturra no trapézio, a casca de tangerina na linha do horizonte, o arco-íris marrom, o chute na canela da escurez, a placa de sinalização estrambólica das erratas de percurso acidentado, o humor irônico dos suicidas, a própria faca de dois legumes das metáforas barulhadas, e ainda assim e por isso mesmo, talvez, as iluminuras de desvairados inutensílios com impropriedades de incompletudes, mais os bulbos paraexistenciais. Quer que eu explique em braile epidérmico, ou desenhe com carvão orgânico para você colorir, entre o lápis de cor no liquidificador das ideias e as fugas das tentativas de abismos da vida como achadouros de cintilâncias?


Lohan: Numa sociedade onde o sexo tem sido tão banalizado, como um poema que aborde a nudez, seja ela feminina ou masculina, pode garantir seu devido reconhecimento e visibilidade? Vale abrir um parênteses: neste ano, comemora-se o centenário de Nelson Rodrigues e Jorge Amado, ambos autores tão espontâneos em relação a assuntos relacionados a sexualidade, à nudez. Nelson dizia que "toda nudez será castigada". Diante do que vivemos hoje, poderíamos dizer que não, "toda nudez não será mais castigada"? E, ampliando essa questão: como a arte, em geral, precisa se portar diante desta problemática social?


Claudio Willer: Chances maiores de ver nudez, nem que seja para provocar censores idiotas do Facebook, publicamente, enriquecem, tornam-na mais instigante como tema. Não vejo por que vivermos em uma sociedade mais aberta, na qual o corpo é menos censurado, seja uma “problemática social”. Como dizia aquele outro pensador, expansão da nudez, liberação do corpo, pode ser uma solucionática social.


Silas Correia: Quem esperma sempre alcança? Zeus ajuda quem cedo masturba? Do sexo viemos e ao sem nexo voltaremos? Toda nudez será o homem fazendo poesia para sempre saber que é bicho? A arte coroa o sexo, o sexo corrói a arte, se não tiver arte pela arte. Do nu viemos e ao nu voltaremos? Corpo-terra. Banalizamos o efêmero. O sexo é livre, a arte é livre (livro) e a poesia é o amor do sexo que nos mantém vivos. Ah, o Sexo é o Tao da Poesia, ou a Poesia é o Tao do Sexo?



Entrevista com: Antônio Carlos Secchin


Antônio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro. É professortitular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ e Doutorem Letraspela mesmaUniversidade. Poeta com seis livrospublicados, destacando-se Todos os ventos (poesiareunida, 2002), que obteve os prêmios da FundaçãoBiblioteca Nacional, da Academia Brasileirade Letras e do PEN Clubepara melhor livro do gêneropublicado no país em2002. Ensaísta, autor de João Cabral; a poesia do menos,ganhador de três prêmiosnacionais, dentreeles o Sílvio Romero, atribuído pela ABL em1987. Organizou várias seletas e obras completas de poetas brasileiros, (Castro Alves, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar). Em 2010, publicou Memórias de um leitor de poesia. Atualmente é um dos curadores da reedição da poesia de Carlos Drummond de Andrade, publicada pela Cia.das Letras. Proferiu mais de quatrocentas palestras em vários estados do país e no exterior. Foi Professorconvidado das Universidadesde Barcelona, Bordeaux, Califórnia, Lisboa, Mérida, México, Los Angeles, Nápoles, Paris (Sorbonne), Rennes e Roma. Autor de centenas de textos(poemas, contos,ensaios) publicados nosprincipais periódicosliterários brasileiros e internacionais. Sobre sua obrajá escreveram favoravelmente ensaístas comoBenedito Nunes, José Guilherme Merquior, Eduardo Portella, Alfredo Bosi, Antônio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e José Paulo Paes, entre outros. Eleito emjunho de 2004, tornou-se à época o mais jovem membro da AcademiaBrasileira de Letras.


Lohan: Grande garimpador de obras raras, você encontrou o primeiro livro de Cecília Meireles, “Espectros”, o qual havia sido renegado pelas editoras, certo? Como se deu esse processo, da pesquisa até a descoberta desta obra tão relevante na história da literatura brasileira?


Secchin: Quando fui convidado para organizar a edição de centenário (2001) de Cecília, julguei que um grande diferencial seria o resgate da primeira obra da autora, desaparecida há décadas. Montei uma rede nacional e internacional de colaboradores. E dei sorte, localizando um exemplar, a tempo de incluir “Espectros” na edição.

Lohan: Pra finalizar, lhe farei uma pergunta calcada numa frase dita por você na entrevista concedida a Luís Antônio Cajazeira. Achei essa provocação bastante válida para aqueles que aspiram ingressar no mundo (real) d
a literatura: “o artista maior abre mil portas, mas as deixa trancadas quando vai embora”. Dirijo esta pergunta relacionando aos poetas desta competição: como abrir as portas, caro Secchin? E, melhor: como trancá-las para a eternidade?


Secchin: Cada um tem de trazer a própria chave: a chave alheia também abre, mas é enganosa, porque só abre portas que já estavam abertas, e, assim, não oferecem o risco da tentativa, do erro e da descoberta.


Entrevista com: Alfredo Fressia

Alfredo Fressia nasceu em Montevideo (Uruguai) em 1948. Professor de Literatura, se desempenha também como periodista cultural. É tradutor de poesia brasileira para o espanhol e é Editor da revista mexicana de poesia “La Outra”. Tem realizado conferências, seminários, cursos na Universidade de São Paulo, Univ. Autónoma de México, Marshall, WV, Ohio State University, Fundación para as Letras Mexicanas. Tem participado de festivais de poesia no Uruguai, Brasil, México, República Dominicana, Colômbia, Chile, Nicarágua, Argentina, entre outros. Sua obra tem sido premiada e traduzida em várias línguas. No Brasil, acha-se com facilidade a antologia bilíngue “Canto desalojado”, na Lumme Editor, São Paulo, 2010.


Lohan: Olá, Alfredo! É com grande prazer que te recebemos no Autores S/A. Percebe-se em seus textos, Alfredo, uma ironia latente, que dá o tom a essência marginal da sua escrita. Sem ironia há poesia, caro Alfredo? E, quanto ao teor marginal, teria sido (também) influência de alguns fatos ocorridos em sua vida, como, por exemplo, sua vinda necessária para o Brasil, há 33 anos, uma vez que em Montevidéu a Ditadura o impedia até mesmo de trabalhar?


Alfredo: Olá, obrigado, Lohan. Sim, claro que há poesia para além da ironia, o contrário é que pode se discutir. Inclusive a ironia é perigosa, eu diria, porque comparte a própria base do discurso poético (um significante, vários significados). Eu a incorporo às vezes, mas faço com cautela (que é a alquimia dos poetas). Você fala em teor marginal, eu falaria de periferia, é ali onde situaria minha poesia. Sim, deve ser efeito da minha vida, daqueles terríveis anos ´70 na América Latina, é provável. Eu desconfio das hegemonias poéticas. A poesia gosta das beiras e das beiradas, ela é marginal aos centros, gosta de olhar para eles a partir da periferia. Eu sei que as grandes edições em lugares hegemônicos (Barcelona, México, Buenos Aires, no caso da poesia em espanhol) são importantes, eu vi meus poemas atingirem um público muito grande só quando foram publicados ali. Mas cuidado, eles tinham sido feitos durante anos e anos em condições “periféricas”, obra de um exilado, e editados em livrinhos quase artesanais.


Lohan: Alfredo, agora farei algumas perguntas dentro de uma única pergunta. Você também é tradutor. Já traduziu Ferreira Gullar, Drummond, Ana Cristina Cesar, Cecília Meireles, entre outros. Conte-nos um pouco sobre o processo de tradução de um poema. Berthold Zilly, tradutor alemão que atualmente encara a tarefa de verter para o seu idioma “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, diz que “todo tradutor é melancólico”. O que acha dessa assertiva de Zilly? As famosas licenças poéticas, bem como as singularidades de cada autor e/ou cultura seriam os principais entraves no ato da tradução? E quanto à sua experiência de leitura e tradução de Cecília Meireles, uma das nossas homenageadas da rodada: por que escolheu traduzi-la? Qual traço da obra de Cecília mais te impressionou?


Alfredo: Todo tradutor é melancólico? Só se for por constatar desde o começo que a batalha está perdida. Lidamos com obras feitas de língua, que só existem nessa língua, e fracassaremos sempre na tentativa de passá-las para outro público. Mas cada pequeno triunfo é uma alegria. Eu tenho inveja dos tradutores de prosa. Eles não têm de lidar com os dispositivos dessa máquina chamada poema, o nível fônico, a retórica sempre mutante e sempre criadora de significado. Eles ficam no recadinho denotativo, uma molezinha, né. A Cecília? Sim, tenho muita admiração por ela. Minha geração não gostava dela, achavam-na uma espécie de simbolista tardia, de modernista que não chegava aos pés dos outros, homens (percebo que podia ser um desdém de gênero também). Eu sempre gostei dela, gosto desse lado inspirado, sem pudor, do seu domínio dos metros portugueses também, e gosto até da prosa (falo das memórias de viagens, foi onde descobri esse amor dela por Montevidéu que me resulta tocante).


Lohan: Caro Alfredo: Clarice Lispector também é uma das nossas homenageadas da rodada. Se você fosse escrever um poema sobre Clarice, em que particularidade você se ateria, condizente à escritora? Já traduziu algum texto da autora?


Alfredo: Já, traduzi o conto “O Ovo e a Galinha”, por enquanto foi só isso. Já escrevi também sobre ela, mas foi uma crônica a partir de certo diálogo que existiu entre ela e o Tom Jobim. Falava ali mais da mulher que da escritora. Se fosse escrever um poema acho que faria a mesma coisa, ficaria com o ser humano que ela foi, aquele cachorro dela lá no Leme, onde morava, essa língua presa, esse cigarro sempre na mão, sim, talvez essa mão queimada que ela tinha fosse um bom disparador para esse poema hipotético.


Lohan: Pra finalizar, Alfredo, diga-nos: com base em toda sua experiência literária e crítica, o que um poema deve ter/ser para ser considerado, na sua concepção, um poema excelente? Deve sobressair a técnica ou a subjetividade do poeta? Como a loquacidade do poeta pode influir na qualidade da obra?


Alfredo: Deve ter um mistério, sem o qual não há poema. Mas olha, Lohan, não há fórmulas, a poesia é lábil como sua matéria, as palavras. Não existe esse negócio de ser um “arbiter elegantiae”, de aplicar regras e decidir o que é e o que não é poesia. Eu gosto da ideia do Kant quando diz que a poesia não deve nem obedecer a regras impostas nem ser livre de toda regra, e ele acrescenta: cada obra, cada poema deve gerar suas próprias regras e estruturar-se sobre elas. Ele estava preocupado com as Artes Poéticas, que precedem a obra e impõem suas regrinhas (colocar isto, evitar aquilo, etc), e nós afinal também. Não há um “plano piloto” de construção do poema, há o poema, na sua solidão, e por seus frutos o conhecerás... Não é não, caro Lohan?


Entrevista com: Marina Colasanti


Marina Colasanti nasceu em 1937, em Asmara, capital da Eritréia. Residiu em Trípoli, mudou-se para a Itália, e em 48 transferiu-se para o Brasil. De formação artista plástica, ingressou no Jornal do Brasil, dando início à sua carreira de jornalista. Desenvolveu atividades em televisão, editando e apresentando programas culturais. Foi publicitária. Traduziu importantes autores da literatura universal. Seu primeiro livro data de 1968. Hoje são mais de 50, de poesia, contos, crônicas, livros para crianças e jovens, ensaios. Através da literatura retomou sua atividade de artista plástica, tornando-se sua própria ilustradora. É detentora de 6 prêmios Jabuti, do Grande Prêmio da Critica da APCA, do Melhor Livro do Ano da Câmara Brasileira do Livro, do prêmio da Biblioteca Nacional para poesia, de dois prêmios latino-americanos. Foi terceiro prêmio no Portugal Telecom. Depois de muitas vezes premiada, tornou-se hors concours da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infanto- Juvenil). Traduzida em várias línguas, sua obra é tema de numerosas teses universitárias. Casada com Affonso Romano de Sant’Anna, tem duas filhas.


Lohan: Olá, Marina! É um prazer imenso recebê-la em nossos “aposentos virtuais”, aqui no Autores S/A. Nesta etapa do II Concurso de Poesia Autores S/A, decidimos homenagear duas grandes escritoras brasileiras: Cecília Meireles e Clarice Lispector. Marina, é sabido que você foi amiga de Clarice. Como vocês se conheceram? Conte um pouco para nós como era essa relação entre vocês duas.


Marina: Conheci Clarice indo a casa dela, levada por um meu amigo, o jornalista Yllen Kerr, que ia visitá-la. Mais tarde, quando ela foi convidada por Alberto Dines, então editor do Jornal do Brasil, para colaborar no Caderno B, onde eu era subeditora, passei a cuidar das colaborações dela, me tornei a ponte entre ela e a editoria. Quando casei com Affonso (Romano de Sant’Anna), a relação se ampliou, porque eles tinham uma relação profissional.


Lohan:
Marina, você disse, em uma mesa redonda da FLIP do ano de 2005, que “as pessoas reverenciavam Clarice Lispector, todavia, não a amparavam”. Clarice se queixava dessa situação, demonstrando ser uma pessoa carente? A seu modo de ver, como Clarice lidava com a fama inexorável e com a subsequente pressão que lhe imputavam por ser um nome célebre e não se envolver diretamente contra as mazelas sociais e opressões que existiam no Brasil?


Marina: Clarice não precisava se queixar abertamente, alardear seus sentimentos. Ela os escrevia. Ela não foi vítima da “fama inexorável”, porque a grande popularidade de Clarice, inclusive o reconhecimento internacional, só aconteceram depois da sua morte. Quando viva, ela era, sobretudo, reconhecida no ambiente literário, que não chega a ser esmagador.


Lohan:
Você já abordou temáticas de cunho feminista em suas obras. Vale salientar, aqui, que Clarice Lispector também mergulhava na aura feminina angustiada, vide Laura em “A imitação da rosa” e Ana, no conto “Amor”, como exemplos clássicos. O que te motiva a ter esse posicionamento em favor das causas femininas? Você acredita que o papel da mulher como escritora, hoje, está consolidado no cenário literário brasileiro?


Marina: O feminismo foi uma atividade política clara, uma revolução social das mais importantes. Clarice não era feminista. Escrever sobre a mulher, debruçar-se sobre os sentimentos femininos, ainda que com extrema sensibilidade, não constitui feminismo. O ponto focal de Clarice nunca foi a política, e sim o cerne do ser humano. Quanto a mim, fui, durante 18 anos, editora de comportamento de uma revista feminina de grande tiragem. Isso me levou a estudar e pesquisar intensamente a condição da mulher, para dar solidez ao que escrevia. Sem dúvida, a literatura brasileira já não pode prescindir das mulheres.


Lohan: Sem mais delongas, Marina, o que um poeta tem de ter/ser, na sua concepção, para ser bem sucedido nesta área literária? O que seria imprescindível na feitura de um poema: algum detalhe técnico, alguma expressão de caráter subjetivo, alguma contextualização...? Deixe seu nobre conselho a todos os poetas, por favor.

Marina: Ser bom poeta não significa automaticamente ser bem sucedido na área literária. Há sucessos que não correspondem à estatura do poeta, e vice versa. Ao sucesso está ligado, sim, à qualidade, mas depende também de circunstâncias, gerações, grupos, e, grandemente, política literária. Não tenho nenhum detalhe técnico para oferecer, nem é o meu papel. Que os aspirantes a poetas leiam “Cartas a um jovem poeta”, do Rilke, “O ABC da literatura”, do Pound, e “A sedução da palavra”, de Affonso Romano de Sant’Anna.


Entrevista com: Flávia Troccoli


Flávia Trocoli é professora adjunta do Departamento de Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É Pós-Doutora pelo Departamento de Linguística do IEL/UNICAMP (2004-2007). Possui Licenciatura em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (1997), mestrado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e doutorado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Recebeu Bolsa FAPESP no Mestrado, no Doutorado e no Pós-doutorado. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, Literatura Brasileira, Literatura Comparada e Literatura e Psicanálise. É membro-fundador do Centro de Pesquisas Outrarte: estudos entre arte e psicanálise, no IEL/UNICAMP.


Lohan: Você já elaborou algumas pesquisas acerca da escritora Clarice Lispector, uma das homenageadas desta rodada no concurso de poesia. Conte-nos sobre suas pesquisas sobre Clarice, o que te motivou a estudá-la, a relação que você encontra entre ela e Kafka e, por fim, o que mais te encanta na obra desta autora.


Flávia: O meu primeiro estudo sobre Clarice Lispector teve como ponto de partida a aproximação rápida, empreendida por muitos críticos, entre a obra clariciana e a obra de Lucio Cardoso, e que vincula esses autores ao chamado romance de análise psicológica. Uma leitura mais atenta de obras dos dois autores me permitiu ver que para além da aproximação havia diferenças irredutíveis entre os textos, principalmente no que dizia respeito ao modo de pensar e de estar na linguagem dos narradores. Em Clarice, embora existam momentos de análise psicológica, o eixo problemático desloca-se da psicologia para as questões em torno da potência da linguagem para dar forma ao choque do encontro com o outro e com a própria linguagem. Foram justamente as questões em torno da linguagem e da representação artística que me levaram a um segundo momento da minha pesquisa, aquele que apontou diferenças também significativas entre as obras de Clarice Lispector e Virginia Woolf. Também em relação a Kafka, acho que minha leitura pensa o campo da diferença, a mais notável é que, se os narradores e os personagens claricianos se definem, antes de mais nada, pela angústia, os personagens kafkianos, paralisados pela vivência obsessiva do mundo burocratizado, não se angustiam, o que é a causa do horror, horror e angústia que ficam sempre do lado do leitor de Kafka. O que ainda me encanta em Clarice Lispector é a forma encontrada para formular impasses, como é o caso do impasse- Macabéa, irredutível a resolução e que, por isso mesmo, nos força a pensar e repensar, a trabalhar incansavelmente.


Lohan: Flávia, se você fosse escrever um poema sobre Clarice, em que você se ateria da vida e/ou obra da autora? E o que você tem a dizer sobre as diversas manifestações ''clariceanas'' que circulam pelas redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter, etc.). Até que ponto isso é favorável a imagem de Clarice nos dias de hoje? Não estaria havendo uma grande boom de pseudo-intelectuais causando a banalização da obra clariceana?


Flávia: Não tenho desejo e nem talento para escrever poemas. É evidente que há uma banalização da obra de Clarice Lispector. Há leitores que transformam o complexo dizer clariciano em uma mensagem apaziguadora, reduzem-no a um significado conveniente e esquecem que uma obra de arte é, antes de mais nada, um problema formal. Por outro lado, há os leitores sérios de Clarice, aqueles que se dispostos a trabalhar, a ler e a reler os textos, a esmiuçar e a dialogar com sua fortuna crítica, a teorizar. Esses últimos me interessam.


Entrevista com: Marcelo Asth


Marcelo Asth tem 24 anos e é poeta, blogueiro, designer, professor de teatro (formado em licenciatura em Artes Cênicas pela UNIRIO), performer e integrante do Coletivo de Performance Heróis do Cotidiano. Participou das antologias: “A Polêmica Vida do Amor” (Ed. Oito&Meio) e “POESIA.COM” (Ed. Multifoco). Foi jurado no I Concurso LínguA'fiada de Poesias e é o vencedor do I Concurso de Poesia Autores S/A.

Publica em seus blogs:





Lohan: Olá, Marcelo! Que prazer receber, hoje, como jurado, o grande vencedor do I Concurso de Poesia Autores S/A. Conte para os leitores e finalistas desta edição, Marcelo, um pouco sobre sua trajetória no concurso do ano passado. Do concurso, o que você levará por toda sua vida literária?


Marcelo: Olá a todos! Agradeço pelo convite de estar aqui, hoje de maneira bem diferente em relação ao ano passado! Fiz minha inscrição no I Concurso de Poesia Autores S/A depois de um grande intervalo em participações em concursos. Estava num período fértil no exercício da minha escrita, produzindo muito, mas também queria sair um pouco do meu umbigo, estar em contato com a visão dos outros, analisando como os jurados, poetas e comentaristas poderiam me ajudar a crescer e como poderiam me influenciar dentro do que eu fazia.

Desta forma, aprendi muito no concurso. Observando o outro, na tentativa de me entender mais no meio daquilo tudo, durante o processo de várias etapas, fui modificando a minha escrita para me aprender.

Os poemas que elaborei para a minha participação no concurso não são nem de perto os que eu costumo escrever naturalmente – quando estou na minha e não estou sendo “observado”. Talvez os do início estivessem mais próximos a uma liberdade artística. Mas no caso do certame, sendo julgado, analisado e comentado e tendo que caber na “caixinha” do tema da rodada – fora a pressão da entrega –, fui me burilando para ver aonde chegava.

Do concurso levo essa experiência de escuta, o exercício de me adequar a temas e formas – me colocando em desafio – e o reconhecimento da singularidade da escrita do outro.


Lohan: Marcelo, com certeza os poetas fariam essa pergunta para você caso te encontrassem: qual é o grande conselho, ou a melhor estratégia (se é que há), para ser vitorioso neste certame ou, no mínimo, bem sucedido, desenvolver bem os poemas cujas temáticas são propostas semanalmente? Você mantinha alguma estratégia?


Marcelo: Fora de um concurso a gente escreve o que quer, o que sonha, o que deseja. Já num concurso, aprendi que, além de escrever para temas que às vezes não parecem tão férteis ou que não são facilmente dominados por nós, é bom dançar conforme as regras. Medir numa balança a sua pessoalidade e a encomenda. Não sei se há estratégia fechada pra vitórias, mas na minha trajetória aqui, tentei ser humilde comigo mesmo e com o concurso em todas as rodadas, pois pensava: se estou aqui, me submetendo a julgamentos e críticas, não devo ficar defendendo o que faço e como escrevo “assim ou assado”. Quem está na chuva tem que querer se encharcar. Se existem pessoas que foram chamadas pelo blog para exercer o trabalho de apresentar suas visões, pra mim era óbvio que eu tinha que entrar no jogo do jogo. Eu escrevia só um poema e ficava trabalhando nele até o momento de enviar – pois se eu fizesse dez poemas, escolhesse um e fosse mal, não iria me perdoar de não ter pensado em mandar um dos outros nove... mas esse foi o meu lance. Descubram agora os de vocês e sigam em frente! Aproveitem. E muita boa sorte! Esse concurso é muito bem organizado, é gostoso e vale a pena!


Lohan: Você é tão jovem e já escreve tão bem, assim como também atua, realiza performances nas ruas, etc. Quais foram as influências artísticas que te conduziram para este universo e que lhe propiciaram tanta qualidade no que você faz?


Marcelo: Eu acho que tá tudo aí, à nossa volta. Seria impossível dizer como me meti na arte, mas deixei ela se meter em mim com tudo. Então, acho que é uma questão de abertura e escuta, atenção e permissão. Exercício e trabalho são pontos que não quero perder nunca na minha vida.


Lohan: Pra finalizar: o que um poema deve ter/ser para receber a sua nota dez, Marcelo? O que prevalece em sua concepção: o uso da técnica ou o teor subjetivo e emocional que o poema emana para o leitor?


Marcelo: Legal a pergunta frisar: na minha concepção. Pois poesia é a coisa mais livre do mundo, desde que seguida em versos e nascida de um ato de expressão. Eu, avaliando um poema, posso variar os quesitos, pois sempre algo pode vir a surpreender. Prezo pela criatividade, pela originalidade na apresentação de imagens (que podem estar contidas na simplicidade, desde que feitas com esmero), ritmo, jogo com as palavras, coesão, potência e, na maioria das vezes, que não seja muito extenso e verborrágico. Eu aprecio a forma num poema, mas sei reconhecer quando a liberdade vale ouro – porque às vezes, a liberdade pode ser utilizada pra mascarar uma falta de profundidade.


Entrevista com: Nonato Gurgel


Nonato Gurgel é doutor em Letras (Ciência da Literatura) pela UFRJ e professor de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa da UFRRJ. Cursou Mestrado em Estudos da Linguagem, Especialização em Literatura Brasileira e Graduação em Letras pela UFRN. Trabalhou como pesquisador da FAPERJ e da EMATER. É autor de “Luvas na Marginália – escritos sobre a poética de Ana Cristina Cesar” (2012) e “Memórias de um leitor ao pé da letra” (no prelo). Edita o blog Língua do Pé: http://linguadope.blogspot.com/


Lohan: Olá, caro Nonato. É com muita satisfação que o recebemos, mais uma vez como jurado, no Concurso de Poesia Autores S/A. Nonato, como você enxerga a literatura contemporânea brasileira, diante de tantas mudanças nos hábitos da leitura e da escrita, bem como da edição dos livros e da divulgação dos trabalhos pelas diversas mídias disponíveis? Qual é a cara do novo poeta brasileiro? Ele preza pela técnica, ele remete ao clássico, ou ele possui raízes firmes no movimento modernista da década de 20/30, quebrando paradigmas a seu modo?


Nonato: Agradeço pelo convite, Lohan. Parabenizo pelo concurso, cuja continuidade deve ser celebrada, e pela sugestão da mitologia como um tema repleto de possibilidades. Parabéns principalmente para os autores classificados. Creio que a qualidade cresceu. Vamos à pergunta que, na verdade, são três ou quatro. Quando penso em literatura contemporânea, falo principalmente do que foi produzido nas letras das últimas décadas do século XX e neste início de milênio. Na minha visão de leitor, essa produção tem pouco a ver com o que chamamos, por exemplo, de Literatura no século XIX – o mais literário de todos os séculos. Naquele contexto, a Literatura era feita basicamente do diálogo com a própria Literatura – uma arte calcada principalmente nas noções de gênero e oralidade que sedimentam a cultura clássica. Depois das vanguardas do início do século XX e de toda arte de ruptura produzida pelo Modernismo, ninguém acredita mais nisso. O cotidiano do século XX produziu uma sensibilidade maquínica e virtual onde os conceitos de tempo, espaço e identidade são relidos, alterando totalmente as concepções artísticas do classicismo. A lição de Walter Benjamin nos ensina que quando mudam os meios de percepção de uma comunidade, transformam-se suas formas de fazer arte, de produzir cultura. Ou seja: não dá para viver no século XXI cercado de mídias, telas, teclas, Iphones e escrever como se estivesse num campo árcade tocando flauta, ouvindo o vento, sem IPTU para pagar. Por isso creio que a cara do poeta contemporâneo seja a do sujeito que, dialogando criticamente com o arquivo de formas que a tradição nos legou, consegue inscrever a sensibilidade do seu tempo.


Lohan: Independente do estilo dessa nova geração literária, quero saber, na sua concepção, o que um poema tem que ter/ser para receber a sua nota 10? Que técnica é imprescindível, a seu ver? A teoria deve sobrepujar a subjetividade na produção de um poema?


Nonato: Teoria é um instrumento contextual e produtivo, mas serve principalmente para dar aula. A poeta contemporânea Ana Cristina Cesar escreveu que foi salva pela técnica. Quando pensamos em arte, não há salvação sem técnica. Seja na vida ou no texto, é preciso o exercício de uma forma. Além da imagem, a forma remete a sons, noções de sintaxe e de extensão. Os materiais acústicos da forma têm a ver com ritmos e timbres, dentre outros, demarcando uma voz, um jeito de dizer. Por isso não curto poeta que não lê ou aprimora esse jeito. Independente de geração, a nota máxima vai sempre para o autor que acentua a sua voz. E essa acentuação vocal requer, hoje, um diálogo com diferentes linguagens – verbais e não-verbais – e um domínio da forma que leva em conta, dentre outros, as noções de rapidez, visibilidade e fragmentação.

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